Museologia e Patrimônio, Vol. 12, No 2 (2019)

Fósseis e patrimônio paleontológico: um retorno ao integral

Josiane Kunzler, Deusana Maria da Costa Machado

Resumo


No século XX, foi deflagrada uma expansão patrimonial em três dimensões - tipológica, cronológica e geográfica. Entre as diversas categorias criadas, está o patrimônio paleontológico, oficialmente conhecido como conjunto de fósseis e registros associados considerados memória da Terra e da Paleontologia, além de recurso científico não renovável. Paralelamente, surge também o conceito de patrimônio integral, em que as fragmentações são artifícios quando, na verdade, natureza e cultura, material e imaterial não são dissociáveis. Argumentando que sob esse domínio a preservação do patrimônio paleontológico poderá se dar de forma mais inclusiva e proativa, a proposta desse artigo é fazer um retorno ao ambiente integral do qual os fósseis foram removidos ao serem convertidos em patrimônio paleontológico. Para tanto, o texto está estruturado em três partes que se fazem essenciais para realizar o caminho em direção ao patrimônio integral. A primeira se debruça sobre as possibilidades de atribuição de significados e valores aos fósseis, para além da científica. A segunda aborda o processo de conversão dos bens em patrimônio, considerando vozes autorizados e instrumentos oficiais. Por fim, considera-se a polissemia do patrimônio, admitindo que as sociedades adotam diferentes formas de patrimonializar seus bens e referências culturais. Concluímos que esse percurso é permeado por amarras do sistema moderno do saber científico, que moldam o discurso oficial de patrimônio paleontológico. Para romper com elas, a pesquisa realizada indica que o patrimônio integral possa ser adotado mais do que como um conceito que se quer atingir. Ele pode ser utilizado como uma abordagem metodológica, visando a construção de patrimônios mais autênticos às sociedades que devem protegê-los.

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