Museologia e Patrimônio, Vol. 14, No 1 (2021)

Museus de fronteira e a musealização do futebol – o lugar da memória futebolística no campo museal brasileiro (anos 1960-1990)

Bernardo Buarque Holanda, Raphael Rajão Ribeiro

Resumo


O artigo tematiza o papel pioneiro de criação de acervos de entrevistas sobre futebol no Brasil, pelos Museus da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS-RJ) e de São Paulo (MIS-SP). A iniciativa de dirigentes e apoiadores desses museus – como o produtor Ricardo Cravo Albin, no Rio, e o historiador José Sebastião Witter, em São Paulo – não só criou uma série específica como integrou o futebol a eixos temáticos artístico-culturais caros às duas instituições, voltadas à montagem de coleções sonoras nacionais. A realização de entrevistas com jogadores, técnicos, jornalistas esportivos e dirigentes por parte dos MISes carioca e paulista, embora sem critérios científicos reconhecidos pela Academia, ou com parâmetros incipientes que mais à frente norteariam a metodologia da História Oral no Brasil, permitiu o registro da memória e da trajetória de um conjunto de profissionais do futebol, com início nos anos 1960 e fim em meados da década de 1990. O objetivo deste texto é apresentar o processo de constituição desses dois projetos durante a segunda metade do século XX, a fim de entender o papel de determinados agentes no reconhecimento do lugar do futebol no contexto dos respectivos museus. Com efeito, em meio a continuidades e descontinuidades, trata-se de avaliar por fim o impacto desse perfil de fundo arquivístico e a influência de coleções dedicadas ao memorialismo esportivo em outras instituições museológicas brasileiras, que se autonomizaram nas décadas seguintes, a exemplo do Museu do Futebol (2008) e do seu projeto de entrevistas, inspirado no MIS: “Futebol, memória e patrimônio”.

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